terça-feira, 17 de novembro de 2009

ECOCIDADES – O Que São?


Ecocidades são cidades ecologicamente saudáveis. Não existem tais cidades. Há fragmentos de ecocidades espalhados pelas cidades atuais e através da história. Percebemos intenções da ecocidade nas atuais tecnologias de reciclagem, de energia solar e eólica, nos projetos de revitalização de rios, jardinagem urbana e plantação de árvores frutíferas. Indivíduos que preferem andar a pé, de bicicleta ou usar transporte coletivo ao invés do automóvel, nos dão indícios de um futuro diferenciado. Arcosanti, Arizona (Soleri) e Cerro Gordo, Oregon são protótipos de ecocidades.

SITUAÇÃO ATUAL: Cidade, Natureza e o Principal Agente do seu Declínio.

Biorregionalistas apontam para a importância da aprendizagem sobre o local onde vivemos: clima, temperatura, geologia, solo, animais, plantas e a história completa das suas inter relações com os humanos. Esse conhecimento nos alerta dos impactos sobre a natureza. Não se pode sentir falta daquilo que se desconhece.

Cidades poderiam ser reconstruídas para se enquadrarem em suas biorregiões de maneira não destrutiva e ainda regenerativa, através de uma coevolução e suporte mútuo com a natureza.

Um futuro saudável requer mudanças e um crescimento diferenciado. Algumas cidades encolhem, tornando-se muito mais compactas, outras dividem-se em unidades menores, enquanto o aumento populacional ocorre ou não.

“Sem dúvida, o mais destrutivo agente causador da desintegração social, contaminação ecológica, do envenenamento de pessoas e do meio ambiente, do desperdício de energia e até mesmo de homicídio é o automóvel.” Carros permitem a ampla ocupação do solo, tornando as pessoas dependentes do veículo individual.

PRINCÍPIOS DA CONSTRUÇÃO DAS ECOCIDADES:

As razões que sustentam a idéia das ecocidades são a defesa, a exploração e a apreciação da vida na Terra. A maior conquista possível para uma biosfera saudável seria a evolução da diversidade humana em conjunto com a da natureza.

CIDADES “CHATAS”, CIDADES COMPACTAS:

As altas densidades devem ser combinadas com “mixed uses” (usos mistos).
Diversidade é saudável nos sistemas ecológicos, na sociedade e na economia das cidades. “Sprawl” (alastramento) força as pessoas a viverem em uniformidade e assim, a percorrerem longas distâncias, poluindo o meio ambiente e ainda desperdiçando energia.
Desenvolver zonas menores, ou “pontos” de grande diversidade nos bairros é muito útil para o transporte público, favorecendo os pedestres e evitando o congestionamento de carros.

Podemos adotar uma “política de proximidade”, que consiste em empregar, alugar, emprestar, comprar de / para pessoas que moram no local. Transporte público funciona melhor quando move as pessoas de um ponto ativo (de concentração) para outro.

REDUÇÃO DA LARGURA DAS RUAS:

O estreitamento das ruas deve acontecer em bairros de densidade média. Não se deve reduzir a largura de corredores de trânsito e vias artérias. Espaço para jardinagem pode ser adicionado ao pátio das casas, do lado ensolarado da rua, plantando-se árvores frutíferas e vegetais que não empeçam a passagem do sol. Do outro lado da rua, onde há bastante sombra decorrente das casas, é um bom local para plantação de nogueiras e frutíferas maiores. Pouco tráfico significa que os vegetais podem ser cultivados no jardim da frente sem risco de acumular poluentes. Placas solares são empregadas, no caso, voltadas para o sul. Bairro integral: “mixed-use”. Várias funções estão conectadas no local: moradia, emprego, escolas, recreação, natureza, agricultura.


EDIFÍCIOS ALTOS, DENSIDADES ALTAS:
Ocupação Plana X Desenvolvimento Compacto:

- Construções de maior altura poupam grande área do solo para a natureza e para a agricultura;
- Salvam energia e previnem poluição, favorecendo pedestres e ciclistas;
- Criam diversidade social (comércio e cultura);
- Podem gerar vários telhados verdes escalonados, favorecendo a natureza e o ar puro, bem como uma ocupação de espaço completamente nova;
- Pode-se obter o mesmo programa de uma ocupação plana em uma área muito menor, com maior diversidade e aproveitamento em uma ocupação compacta e elevada;

CONCEITO DA RUA LENTA (Slow Street ou Woonerf):

A Rua Lenta é uma das várias maneiras de desacelerar o trânsito. A velocidade máxima de trânsito permitida é a mesma de uma bicicleta em ritmo de passeio. Neste conceito, sinaleiras apontam para a rua perpendicular à Rua Lenta, garantindo um trânsito lento, porém fluido. Estas ruas, chamadas de “woonerfen” na Alemanha, se tornam lugares, e não simplesmente vias de acesso. Em uma woonerf, o limite de velocidade é tão lento que ultrapassar um pedestre é considerado ilegal!

ILUSTRAÇÕES:

Centro em transformação: de uma “cidade-carro” para uma cidade ecológica para pedestres.
Um típico centro de cidade com seus “edifícios-caixa” e conseqüentes estacionamentos, associando congestionamento, fuligem resultante da poluição e pavimentação impermeável do solo, para futuro alastramento da cidade.



Centro em transição: reestruturação do centro da cidade.


Reciclagem e reuso dos materiais de construção, recuperação das fontes naturais de água que haviam sido enterradas, adição de infra-estrutura para pedestres e a reconstrução baseada em uma transição para um tipo “mixed-use” e “desenvolvimento equilibrado”, nas quais as atividades mais importantes serão providenciadas dentro de uma distância curta.





Centro de ecocidade: utilizando uma fração da energia gasta anteriormente, ocupando menor área e abrindo lugar para a natureza.






Fluxos naturais de água restaurados, passarelas entre edifícios, ruas para os pedestres, tecnologia de energia solar, acessos para “ruas” elevadas nos terraços. Aos poucos, as pessoas estão se mudando dos subúrbios em direção aos centros, usando fonte de renda de desenvolvimento para comprar e remover as edificações das áreas dependentes do uso de carros.





(Trechos traduzidos do livro “Ecocity Berkeley”, de Richard Register)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

PADRÃO DE LINGUAGEM 199 – Balcão Ensolarado

Christopher Alexander

PADRÃO 199 – Balcão Ensolarado




...Para deixar a cozinha o mais aconchegante e bela possível, vale dar atenção especial no posicionamento do balcão e das janelas.


PREMISSA:

Cozinhas escuras e sombrias são deprimentes. A cozinha é o ambiente que mais precisa de sol.


FATO:

Veja como é belo a área de trabalho da cozinha da imagem abaixo. Praticamente todo balcão é delineado por janelas. A superfície está banhada de luz e há bom senso de espaço interno.

Há vista para for a e um ar de tranqüilidade.




Compare com esta cozinha sombria. Não há luz natural sobre o balcão. Os armários são desordenados; é uma experiência desprezível trabalhar nesta área – debaixo de um armário, de frente para uma parede com luz artificial em pleno dia.



Esta cozinha escura e sombria é típica das casas modernas, por duas razões:

1 – Com freqüência as pessoas reservam o norte para as salas de estar e posicionam as cozinhas nas áreas restantes, voltadas para o sul;

2 – A cozinha é pensada como um lugar “eficiente”, projetada apenas para operações mecânicas de cozimento.

Em muitos apartamentos, as cozinhas estão posicionadas onde não recebem nenhuma luz natural.

POSSIBILIDADES:

Dê às janelas uma vista para o jardim ou para uma área onde crianças brincam.

Se o espaço para depósito for apertado, pode-se colocar prateleiras abertas, para a armazenar pratos, panelas e plantas, rente às janelas e ainda assim deixar o sol penetrar no ambiente.

Construa o balcão como parte especial do ambiente, integrado com a estrutura da edificação, capaz de aceitar modificações futuras.

Use cores quentes ao redor para suavizar e aquecer a luz do sol.

PORTANTO:

Coloque a parte principal do balcão da cozinha voltados para o norte e nordeste do ambiente, com grandes janelas ao redor, para que o sol possa inundar e preencher o espaço com luz amarelada tanto na manhã quanto na tarde.

PADRÃO DE LINGUAGEM 181 – O Fogo

Christopher Alexander

PADRÃO 181 – O Fogo




...Este padrão tem influência sobre o modo com que os caminhos e as salas se relacionam entre si.


PREMISSA:

Não há substituto para o fogo.




FATO:

A televisão geralmente oferece foco para um ambiente, mas não passa de um fraco substituto para algo que, de fato, está vivo e tremeluzente dentro de uma sala. A necessidade do fogo é quase tão fundamental quanto a necessidade da água.

O fogo é um ponto de referência emocional, comparável às árvores, outras pessoas, uma casa, o céu.



A declaração mais convincente sobre a necessidade do fogo que encontramos está no livro “The Psychoanalysis of Fire”, de Gaston Bachelard:

“O fogo confinado em uma lareira foi para o homem o primeiro objeto de devaneio, o símbolo do repouso, um convite para o repouso. O fogo nos aquece e nos conforta. Mas nós apenas nos tornamos conscientes dessa sensação de conforto após um longo período de contemplação das chamas. Quando próximo do fogo, deve-se estar sentado, descansar sem dormir e engajar-se no devaneio de um objeto específico”.

Os defensores da teoria da formação utilitária da mente não aceitarão uma teoria tão irreverente no seu idealismo e irão apontar os inúmeros usos do fogo, para averiguar exatamente quais são os interesses que temos nele: o fogo não apenas transmite calor, mas cozinha alimentos.

Mediante uma dose extra de prazer, o fogo se mostra amigo do homem, e não se limita ao cozimento. A conquista do supérfluo nos garante uma excitação espiritual maior que a conquista do necessário. O homem é uma criação do desejo e não uma criação do necessário.

Fogo, para quem o contempla, representa uma súbita mudança ou evolução circunstancial; menos monótono e abstrato que a água. O fogo sugere o desejo de transformação, acelerar a passagem do tempo, concluir sobre a vida. Nessas circunstâncias, o devaneio torna-se dramático e fascinante: a destruição é mais que uma simples mudança, é renovação. Amor, morte e fogo são desconectos ao mesmo tempo. Perder o todo para receber o todo. A mensagem do fogo é clara: “Após receber tudo através da habilidade, do amor ou da violência, deve-se renunciar a tudo, aniquilar-se”.




Mrs. Field, citada em “A Casa e a Arte de seu Design”, de Robert W. Kennedy, apresenta um ponto de vista mais terreno:

“As chamas do fogo na lareira acalmam e relaxam. O fogo incita a imaginação, o conto de histórias e tem uma qualidade hipnótica e benéfica sobre as pessoas”.




Devemos encarar o fato de que em muitas partes do mundo, o fogo proveniente do uso da madeira e do carvão não é ecologicamente saudável. Eles poluem o ar, são ineficientes para calefação e esgotam as reservas de madeira.

Se quisermos manter o hábito de fazer fogo em casa, devemos encontrar uma maneira mais suplementar para manter esse conforto emocional, produzindo nosso próprio combustível a partir de materiais descartáveis como papel, tecido, sobras de madeira, serragem, etc.


POSSIBILIDADES:

Certamente, a lareira principal deve ser localizada em uma área comum da casa. Isso ajudará a atrair as pessoas para este local e as chamas proverão uma espécie de contraponto à conversa.

Entretanto, a lareira deve estar à vista das pessoas atravessando a sala, e das pessoas em salas adjacentes, principalmente a cozinha. O fogo tenderá a atrair as pessoas, mantendo-as unidas. A melhor hora para acender o fogo é ao final da tarde, quando a família se reúne para comer. Esta atividade tende a estabelecer um equilíbrio entre a cozinha e o fogo.

Garanta a existência de um espaço onde as pessoas poderão sentar em frente ao fogo e que este espaço não seja interrompido por passagens entre portas e salas adjacentes.

Assegure-se que a lareira não seja um espaço morto enquanto o fogo não esteja aceso. Uma lareira sem fogo, cheia de cinzas e escura afastará as cadeiras ao redor, a não ser que estas cadeiras encarem outra coisa enquanto não houver fogo – uma janela, ou vista, ou uma atividade. Somente então, as cadeiras que circundam a lareira serão estáveis e manterão o local vivo, mesmo com o fogo apagado.


PORTANTO:

Construa o fogo em um espaço comum – talvez na cozinha – onde ele fornece um foco natural para conversas e sonhos e pensamentos. Ajuste a localização até que ele costure os espaços sociais e salas adjacentes, oferecendo a cada um deles um relance do fogo; e faça uma janela ou algum outro foco que sustente o ambiente enquanto o fogo estiver apagado.

PADRÃO DE LINGUAGEM 163 – Sala Externa

Christopher Alexander

PADRÃO 163 – Sala Externa


...Toda edificação tem salas onde as pessoas ficam, convivem e conversam. Sempre que possível, estas salas precisam ser embelezadas por uma “sala” ao ar livre próxima.


PREMISSA:

O jardim é um local para se deitar na grama, andar de balanço, jogar bola, plantar flores, brincar com o cachorro. Mas há outra maneira de se estar ao ar livre e suas necessidades de forma alguma se encontram no jardim.


FATO:

Para algumas horas do dia, alguns estados de espírito e tipos de amizade, as pessoas precisam de um lugar para comer, sentar usando roupas formais, beber, conversar e aquietar-se e ainda assim, estar ao ar livre.

Elas precisam literalmente de uma sala externa – um espaço parcialmente fechado, ao ar livre, mas bastante parecido com uma sala, para que as pessoas se comportem como se estivessem num ambiente interno, porém com a adição de belezas naturais como sol, vento, folhas, aromas e grilos.

Todo edifício precisa de uma sala externa acoplada a ele, entre ele e o jardim. Além disso, muitos dos lugares especiais em um jardim – locais ensolarados, terraços, gazebos – precisam ser concebidos como salas externas.

A inspiração para esse padrão partiu do capítulo “The Conditioned Outdoor Room”, de Bernard Rudofsky, no livro “Behind the Picture Window” (New York Press, 1955).

Em uma casa-jardim bem projetada, as pessoas devem poder trabalhar e dormir, cozinhar e comer, brincar e descansar.

Como regra geral, o habitante do nosso clima não faz uso do seu entorno imediato. O máximo que ele concebe é uma varanda cercada.

Como regra geral, o habitante do nosso clima não faz uso do seu entorno imediato. O máximo que ele concebe é uma varanda cercada. O jardim, se é que ele existe, permanece desocupado nos períodos entre festas. De fato, quando se fala sobre “ar livre”, raramente ele se refere ao seu jardim. Ele não pensa no seu jardim como um espaço de estar em potencial.

O uso recente de paredes de vidro alienou o jardim. Até mesmo a “janela-moldura” tem contribuído para separar o interior do exterior; tornando o jardim um local de observação.

O conceito histórico de casa-jardim é inteiramente diferente. Jardins domésticos eram valorizados principalmente por sua habitabilidade e privacidade, duas qualidades que estão ausentes hoje em dia. Mesmo pequenos, eles tinham todos os ingredientes de um ambiente feliz.

Esses jardins eram parte essencial da casa, podendo ser definidos como salas desprovidas de teto. Eram verdadeiras salas de estar ao ar livre.

O material utilizado nas paredes e nos pisos dos jardins romanos eram equivalentes aos usados no interior das edificações. Quanto ao teto, era sempre o céu.

Um espaço ao ar livre se torna uma sala externa especial quando ele é bem definido por paredes, colunas, treliças e céu; e quando esta sala, juntamente com um espaço interno forma uma área de estar virtualmente contínua.

As imagens abaixo demonstram diferentes combinações de elementos para estabelecer o fechamento de um espaço. Cada um é relacionado de maneira levemente diferente com a sua edificação. Rudofsky, no livro citado anteriormente, descreve inclusive como transformar o recuo de jardim em uma sala externa.



PORTANTO:

Construa um local ao ar livre cercado o suficiente para transmitir a sensação de uma sala, mesmo que esta se abra para o céu. Para isto, defina os cantos com colunas, talvez cubra-o parcialmente com uma treliça ou telhado de lona removível e crie “paredes” ao redor, utilizando cercas, paredes baixas, telas ou as paredes da própria edificação.

PADRÃO DE LINGUAGEM 161 – Local Ensolarado

Christopher Alexander

PADRÃO 161 – Local Ensolarado




...Este padrão ajuda a embelezar e a dar vida a qualquer ambiente ao ar livre voltado para o sul (norte para quem vive no hemisfério sul) e, em uma situação onde o ambiente está voltado para leste ou oeste, ele pode ajudar a modificar a edificação para que a parte efetiva ao ar livre fique com face para o sol.


PREMISSA:

O entorno imediato da edificação, voltado para o norte – o ângulo entre suas paredes e a terra onde o sol se põe – deve ser pensado e transformado em um lugar que permite com que as pessoas de aqueçam e se exponham ao sol.


FATO:

Nas edificações, as áreas externas devem estar voltadas para o norte, mas esse simples fato não garante que as pessoas usufruirão desse ambiente ao ar livre.

Um jardim, ou pátio, não será útil a menos que nele exista um local ensolarado e de importância funcional, específica e intencionalmente voltado para o sol, unindo ambientes internos e externos




Uma faixa de sombra entre uma edificação e uma área ensolarada pode ser uma barreira. Isto nos leva a crer que os locais ensolarados mais importantes ocorrem diretamente sobre as paredes externas dos edifícios, as quais as pessoas podem ver do interior e ir diretamente ao encontro da luz. Estes locais são ainda mais convidativos se eles são colocados próximos a uma divisa, uma parede baixa ou coluna, que poderão prover recintos para que as pessoas possam sentar e aproveitar o sol.

Para que de fato o lugar funcione, deverá haver algo especial que seja atrativo às pessoas: um balanço, uma vista, uma área de plantio, um degrau no qual se possa sentar e observar uma fonte de água.




PORTANTO:

Em um jardim, pátio ou quintal voltado para o norte, encontre o local entre a edificação e o ambiente ao ar livre que capta o melhor sol. Desenvolva esta área como um local ensolarado especial – faça dele uma sala externa importante, um local para trabalhar ao sol, ou para um balanço e algumas plantas especiais, um local para tomar banho de sol. Cuidado para posicionar este local em uma área protegida do vento, pois este o impedirá de desfrutar do mais belo lugar.

PADRÃO DE LINGUAGEM 66 – Solo Divino

Christopher Alexander

PADRÃO 66 – Solo Divino




...Nós definimos a necessidade de um ciclo de vida completo, com rituais de passagem entre estágios deste ciclo – o Ciclo da Vida; e nós recomendamos que certas partes de terra sejam preservadas por causa da sua importância e significado – Sítios Sagrados. Este padrão oferece a organização detalhada do espaço ao redor destes lugares. Esta organização é tão poderosa, que em alguma extensão ela própria consegue criar o ambiente sagrado dos sítios, talvez até mesmo encorajar a emergência vagarosa dos rituais de passagem.


PREMISSA:

O que é uma Igreja ou Templo?

É um local de adoração, espírito, contemplação. Mas, sobretudo, do ponto de vista humano, é uma porta de entrada. Uma pessoa penetra no mundo através da igreja. Ela o deixa através da igreja. E, a cada etapa importante de sua vida, ela mais uma vez passa pela Igreja.


FATO:

Os rituais que acompanham o nascimento, a puberdade, o matrimônio e a morte são fundamentais para o desenvolvimento humano. A não ser que estes rituais recebam o peso emocional que eles requerem, é impossível para um homem ou uma mulher passarem adequadamente de uma etapa de vida para outra.



Em todas as sociedades tradicionais, onde esses rituais são tratados com enorme poder e respeito, os rituais, de uma forma ou outra, são sustentados por partes do entorno físico que tem o caráter de portas. Claro que uma porta de passagem não cria um ritual. Mas também é verdade que rituais não se desenvolvem em ambientes que os ignora ou os torna triviais.





Em termos funcionais, é essencial que cada pessoa tenha a oportunidade de entrar em uma espécie de comunhão social com seus semelhantes durante esses pontos cruciais de suas vidas. Essa comunhão social, neste momento, necessita fixar raízes em algum local que seja reconhecido como uma espécie de porta de entrada espiritual para estes eventos.

Que formato físico ou organização deve ter esta “porta” para ser a base de rituais de passagem e para criar a santidade, a divindade e o sentimento de conexão com a terra que os torna significativos?

Seus detalhes serão variáveis, tomando formas diferentes em culturas diferentes, requerendo entornos físicos diferentes como base. Entretanto, há algo fundamental e invariável em todas elas: o que quer que seja sagrado, somente será percebido como sagrado se for difícil de ser alcançado, através de uma série de camadas de acessos, espera e níveis – de aproximação, revelação gradual, a passagem por uma série de portas.



Esta estratificação ou ninhada de recintos parece corresponder a um aspecto fundamental da psicologia humana.

Cada comunidade necessita de algum lugar onde essa sensação de acesso lento e progressivo até um centro sagrado, através de portas, possa ser experimentada.

Quando tal lugar existe em uma comunidade, ainda que não associado a nenhuma religião concreta, o sentimento de santidade gradualmente tomará vida, entre as pessoas que compartilham dessa experiência.



POSSIBILIDADES:

Em cada espaço entre recintos, construa uma porta de passagem - em cada porta, um lugar para pausar com uma nova visão rumo ao próximo local interno e no santuário interior, algo muito quieto e inspirador... Talvez uma vista ou nada mais que uma simples árvore ou piscina.



PORTANTO:

Em cada comunidade e vizinhança, identifique algum sítio sagrado como solo divino e forme uma série de recintos consecutivos, cada um marcado por uma porta de entrada e progressivamente mais privado e mais sagrado que o anterior, sendo que o mais interno dos recintos só poderá ser alcançado através da passagem por todos os anteriores.

domingo, 15 de novembro de 2009

PADRÃO DE LINGUAGEM 24 - Sítios Sagrados

Christopher Alexander
PADRÃO 24 - Sítios Sagrados


...Em cada região, cidade ou bairro, existem lugares especiais, os quais tornaram-se símbolos do local, e as raízes das pessoas lá se encontram. Esses lugares podem ser belezas naturais ou marcos históricos deixados por eras passadas. Mas de alguma forma eles são essenciais.


PREMISSA:
As pessoas não conseguem manter suas raízes espirituais e suas conexões com o passado se o mundo físico no qual elas vivem não sustenta essas raízes.


FATO:
Experimentações informais nas nossas comunidades nos levaram a acreditar que as pessoas concordam a respeito dos sítios que expressam a relação das pessoas com a terra e com o passado. Parece que “os” sítios sagrados para uma determinada área existem como realidades populares objetivas.

Sendo assim, então é essencial que estes sítios específicos sejam preservados e sua importância relevada. A destruição dos sítios que fazem parte da consciência coletiva, gera inevitavelmente lacunas, feridas na comunidade.


Sociedades tradicionais sempre reconheceram a importância destes sítios. Montanhas são marcadas como lugares para peregrinações especiais; rios e pontes se tornam divinos; uma edificação, árvore ou rocha toma o poder pelo qual as pessoas se conectam com o seu próprio passado.


Mas as sociedades modernas geralmente ignoram a importância psicológica destes sítios. Eles são escavados, desenvolvidos e modificados por razões políticas e econômicas, sem considerar estas simples, porém fundamentais questões emocionais, ou então eles são simplesmente ignorados.


POSSIBILIDADES:

Em qualquer área geográfica – grande ou pequena – pergunte a um grande número de pessoas quais sítios e quais lugares fazem com que elas sintam maior contato com o município (1); quais sítios que melhor representam os valores do passado (2) e quais aqueles que personificam a sua conexão com a terra (3).


Estudo de Caso: Porto Alegre-RS
1 - Laçador, Usina do Gasômetro, Parque Moinhos de Vento, Parque Farroupilha, Arco do Expedicionário, Monumento aos Açorianos, Cais do Porto, Parque da Harmonia;
2 - Catedral Metropolitana, Parque da Redenção, Av. Oswaldo Aranha, Casa de Cultura Mário Quintana, Mercado Público, Rua dos Andradas, Praça da Alfândega, Teatro São Pedro, Castelinho do Alto da Bronze, MARGS, Palácio Piratini, Colégio Militar;
3 – Orla do Guaíba, pôr-do-sol (no Guaíba), Reserva do Lami, Morro do Osso, Cascatinha da Glória, Bairro Ipanema (nas margens do Guaíba).
Então insista para que eles sejam preservados...



Uma vez que os sítios sejam escolhidos e preservados, embeleze-os de modo que seu significado público intensifique.
Acreditamos que a melhor forma de intensificar um sítio é através de uma progressão de áreas pelas quais as pessoas deverão passar ao se aproximar do local.
A magnificência do topo de uma montanha é elevada pela dificuldade de alcançar os vales superiores pelos quais este pode ser visto.



Devemos construir ao redor de um sítio sagrado uma série de espaços que vão gradualmente se intensificando e se convergindo ao sítio. O próprio sítio torna-se uma espécie de santuário interno. Se o sítio for muito amplo – uma montanha – a aproximação pode ser obtida através de lugares especiais pelos quais ela pode ser vista – um santuário alcançado após vários níveis.
Dê a cada sítio sagrado um local, ou uma seqüência de lugares, onde pessoas podem relaxar, desfrutar e sentir a presença do lugar.



PORTANTO:
Quer sejam os sítios grandes ou pequenos, quer eles estejam no centro das cidades, nos bairros ou nas profundezas da zona rural, estabeleça ordenanças que irão proteger os sítios sagrados absolutamente, para que no entorno visível nossas raízes não possam ser violadas.